Fitoterapia

"A fitoterapia é a terapêutica que utiliza, como ingredientes terapêuticos, substancias provenientes de plantas, e inclui a promoção da saúde, a prevenção da doença, o diagnóstico e tratamento, abrangendo ainda o aconselhamento dietético e a orientação sobre estilos de vida." (Portaria 207-E de 2014)

A fitoterapia é uma terapêutica com uma conceção holística e natural do ser humano, e métodos de diagnóstico, prescrição e tratamento próprios assentes em axiomas e teorias especificas, que utiliza como ingredientes medicinais as plantas frescas ou secas, com efeitos terapêuticos ou alimentares, substâncias provenientes de plantas, nomeadamente óleos essenciais e florais, e os seus extratos e preparados que contêm partes de plantas ou combinações entre elas, para diferentes formas de utilização, incluindo a interna e a externa, e usa suplementos alimentares e dietéticos. As plantas ou as suas preparações podem ser produzidas para consumo imediato ou como base para suplementos alimentares e produtos vegetais, sujeitos á legislação aplicável a este tipo de suplementos e produtos.

O que é a Fitoterapia?

Como surgiu a Fitoterapia?

Manuscrito ilustrado datado há 1000 anos!

Os registros mais antigos do uso de plantas com finalidade terapêutica datam de 8.500 a.C. Na China, o imperador Cho-Chi-Kei descreveu as propriedades observadas no gingeng e na cânfora ainda por volta de 3.000 a.C. O primeiro livro escrito esta datado 2800 a.C. com referências a fórmulas de Fitoterapia, o célebre “Nei Jing”. Está documentado que todos os povos da antiguidade – gregos, romanos, persas, egípcios, etc. – utilizaram as plantas, os produtos de origem mineral e animal, como base da sua medicina. No ano 100 a.C. foi documentada pelo grego Pedanius Dioscorides, autor do tratado chamado “Matéria Médica”. Este tratado tornou-se a principal fonte de informação sobre drogas medicinais desde o século I até ao século XVIII. O termo “fitoterapia” resulta da junção das palavras gregas “Phythón” (planta) e “Therapeía” (terapia) e, estuda as plantas medicinais e as suas aplicações no tratamento de problemas de saúde. o termo “Fitoterapia” ao médico francês, Henri Leclerc, que depois inúmeras experiências com plantas durante a década de 50, reuniu os resultados na obra “Sumário de Fitoterapia”.

Na Europa Medieval, a religião dificultava o avanço das ciências médicas porque acreditava que as doenças consistiam em punição para os pecados e se opunha a realização de experiências. Neste período, o tratamento de saúde era algo elitizado, sendo destinado apenas aos ricos que podiam pagar pelo tratamento vendido em pequenos boticários. O conhecimento sobre as propriedades terapêuticas de plantas foi ampliado pelo movimento das cruzadas e pelo estabelecimento de uma rota de comércio com os árabes, difundindo o uso de especiarias e produtos medicamentosos. Ainda na Europa medieval, diversas ordens de monges cristãos cultivavam várias ervas terapêuticas no monastério e as comercializavam. Além disso, os monges estavam muito comprometidos em transmitir este conhecimento, e por isso copiaram e traduziram para o latim algumas obras antigas. Os mesmos monges se destacavam nesta época descrevendo e catalogando plantas. O mosteiro de Santa Hildegrada da ordem Beneditino (Eibingen - Alemanha) descreveu cerca de 250 espécies de plantas. A época da peste, como é conhecido o século XIV, foi assolado por pandemias e a medicina medieval não era suficiente para prevenir os danos da pandemia. Contudo, haviam alguns farmacêuticos desonestos que vendiam por altos preços especiarias com a promessa de preservar a saúde e a vida.

A partir das grandes expedições do fim do século XV que culminaram com o descobrimento da América e a rota marítima para a índia, novas ervas e novas opções de tratamento foram aprendidas. Além disso, mudas e sementes de novas espécies foram levados à Europa para estudo, levando a criação dos jardins botânicos. Um avanço notório no estudo das ervas medicinais foi conseguido pelo Suíço de pseudônimo Paracelso que desenvolveu métodos de processamento de matérias-primas vegetais para extrair o que ele chamava de “a essência terapêutica”, ou seja, a substância farmacodinamicamente ativa como dito na atualidade. A Paracelso é atribuída a autoria de uma das frases mais conhecidas nas ciências médicas: “O veneno está em tudo, e nada existe sem veneno; a dose faz isso um veneno ou um remédio.” O século XIX foi marcado pela capacidade de isolamento de substâncias, como fez o Alemão Friedrich Wilhelm Sertürner em 1804, quando isolou a morfina presente no látex da papoula. Os estudos desta natureza marcaram o fim do uso experimental da planta e abriu o período de pesquisas científicas em termos de análise de composição química, efeitos farmacológicos e propriedades toxicológicas. Nesta mesma época, os estudos botânicos se dissociaram da medicina, mas ainda assim o uso das plantas medicinais consistia numa estratégia imprescindível para o tratamento de patologias. Os avanços nos estudos das plantas medicinais continuaram no século XX com o surgimento de novas ferramentas como a melhoria do microscópio óptico e técnicas de cromatografia. No entanto, o seu uso foi grandemente reduzido devido a disponibilidade de drogas sintéticas, sobretudo os antibióticos. Apenas depois da segunda metade do século XX é que houve um retorno a procura por tratamentos naturais devido aos efeitos adversos de drogas sintéticas e a descoberta do fenômeno da resistência a antibióticos. Nesta época, passou-se a utilizar o termo FITOTERAPIA cunhado pelo médico francês Henri Leclerc que realizou vários estudos durante a década de 1950 e os compilou na obra “Sumário de Fitoterapia”. Apesar do uso das plantas medicinais ocorrer há milênios, apenas em 1978 foi que a OMS reconheceu o uso de fitoterápicos com finalidade profilática, curativa e paliativa através da declaração de Alma-ata. No Brasil, em 1996, ocorreu a 10ª Conferência Nacional de Saúde que aprovou em seu relatório final a incorporação ao SUS de práticas de Saúde como Fitoterapia, Acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas e práticas populares. Mais adiante, a Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006 instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) com o objetivo de normatizar e estabelecer diretrizes para implementar as práticas integrativas e complementares ao SUS. No mesmo ano, o Decreto Nº 5.813, de 22 de junho 2006 instituiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos com o objetivo de: “garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”

Atualmente os fitoterápicos voltam a ganhar popularidade com uma estimativa de consumo que alcança cerca de 80% da população mundial, com destaque para a população idosa. Acredita-se que este número decorre do crescente questionamento e preocupação da população quanto aos efeitos adversos dos medicamentos convencionais. Além disso, há questões filosóficas, religiosas e preocupações com meio ambiente que direcionam para o uso de fitoterápicos. É importante destacar que, atualmente os termos fitoterápicos e plantas medicinais se referem a coisas distintas. Os fitoterápicos são produtos aprovados pela ANVISA obtidos pelo emprego de matérias-primas vegetais submetidos a processo industrial padronizado para evitar contaminação por microrganismos e outras substâncias. Tem como base a espécie vegetal devidamente identificada e apresenta composição quantitativamente correta de ativos, sendo, portanto, a forma mais segura de consumo. Por outro lado, a planta medicinal é todo e qualquer vegetal que possui ativos que podem ser utilizados para fins terapêuticos, e normalmente é consumida sob a forma de chás ou infusões. A comercialização de plantas medicinais ocorre livremente em feiras sem muito critério quanto a procedência das mesmas.

Ao contrário do que se acredita, o uso de fitoterápicos não está isento de riscos a saúde. Da mesma forma que os medicamentos sintéticos convencionais, os fitoterápicos têm sua eficiência atrelada a correta prescrição, isto é, a definição da dose e período de tratamento adequados. O uso prolongado e também doses acima das recomendadas podem trazer danos em órgãos como fígado e rins. Além disso, o uso concomitante de fitoterápicos e medicamentos convencionais pode alterar as respostas de determinados receptores provocando aumento ou redução do efeito farmacológico esperado, fenômeno conhecido como interação fármaco e fitoterápico. Esta interação além de comprometer a eficácia do medicamento afeta a administração segura do mesmo. Dessa forma, a fitoterapia se apresenta como uma abordagem complementar de saúde que busca a prevenção e a recuperação de saúde. Apesar de ter sua origem no conhecimento popular, ser de fácil acesso e apresentar menor custo que os medicamentos convencionais, os tratamentos com fitoterápicos devem ser utilizados com cautela e sobretudo com a orientação de um profissional habilitado na área.

Santa Hildegarda

"A fitoterapia é uma ponte entre o ser humano e a natureza."